Prefeitura de BH lança o programa Escola Verde

O dia foi de festa na EMEI Vila Leonina, região Centro-Sul da capital. As secretarias de Meio Ambiente (SMMS) e a de Educação (SMED) lançaram no sábado (26) o programa Escola Verde, que pretende integrar famílias, educadores e estudantes em torno das práticas ambientais, fortalecendo vínculos e promovendo o aprendizado coletivo. A iniciativa contempla a implantação de ecoflorestas, meliponários de abelhas sem ferrão, pluviômetros pedagógicos e uma intensa programação de educação ambiental com oficinas, formações e visitas orientadas.
“Não adianta nada falar do meio ambiente sem mostrar. Quando a população participa, se envolve em cuidar das plantas, conhece as abelhas nativas sem ferrão, um universo se abre e as pessoas entendem a necessidade de preservar,” analisa o biólogo Thiago dos Santos, responsável pelo projeto Poliniza da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. No último sábado, Thiago instalou na Escola Municipal Vila Leonina um meliponário que vai dar às crianças a oportunidade de acompanhar de perto o trabalho das abelhas na natureza.
“Nós não queremos apenas plantar, queremos envolver a comunidade para que ela reconheça este espaço como dela. Essa mobilização para cuidar da natureza, cuidar do meio ambiente, vencer os desafios da comunidade, deve começar nas crianças. As crianças têm esse poder de mobilizar os adultos, de mobilizar a comunidade, os pais, as famílias. A gente vê as crianças se envolvendo no entorno da escola. A gente vê as crianças incomodadas com o lixo, os bebês indo até a horta, molhando as plantas. A gente está muito feliz com a mobilização das crianças. A criança é muito fértil. O que semeia dá frutos maravilhosos,” declara orgulhosa a diretora da EMEI, Priscila Lana.
Ana Paula Rodrigues, estudante, mãe de duas gêmeas de três anos, confirma as palavras da diretora. Acompanhada do marido, ela observava as filhas empenhadas em participar do plantio de uma das 18 árvores. Munidas de pequenas pazinhas, as meninas jogavam contentes terra no berço que receberia a planta. A mãe conta que desde que elas ganharam mudas de girassol e plantaram com a avó, elas não só criaram uma memória afetiva em relação às plantas, como também despertaram a curiosidade sobre a natureza.
“É um importante contato com a terra, elas trouxeram a flor pra escola e se preocupam em regar. Eu acho que a nossa salvação é a nova geração que está vindo. Para elas é um desenvolvimento muito maior porque elas estão tendo o contato com o plantio aqui na escola. Acho maravilhoso o projeto, eu gostei muito, elas também estão amando, é só aprendizado, né. Pra elas, pra gente também”, avalia.
O biólogo Thiago mostrou às crianças o funcionamento do meliponário. Explicou que as abelhas nativas não têm ferrão e são inofensivas. Inicialmente desconfiados, os pequenos foram perdendo o medo. E aprenderam a importância daqueles insetos. “As crianças descobrem que o mel não é o mais importante. Entendem que sem abelha não tem vida na terra. As abelhas são o único animal nativo que as pessoas podem criar sem licença”, ensinou.
A Vila Leonina surgiu na década de 1950, com a construção de vários loteamentos urbanos, formado por uma intensa movimentação migratória e a criação de novas áreas de habitação, refletindo o crescimento econômico da cidade. É a parte do Aglomerado do Morro das Pedras, que inclui outras vilas e tem uma história marcada por questões de exclusão social e políticas locais. Um terreno antes árido que hoje vive as transformações proporcionadas pela educação.
“A gente acredita que dessa forma vai melhorar o ambiente nas escolas. Hoje vivemos um problema que é a crise climática batendo à nossa porta. Projetos como o da Ecoescola e o Escola Verde, essa parceria do Meio Ambiente com a Educação, a gente acredita que isso vai possibilitar espaços com temperaturas mais amenas. Com certeza, tanto o plantio de árvores quanto o meliponário, que vai proporcionar a polinização de várias outras plantas nas proximidades, isso vai contribuir para esse equilíbrio climático, esse equilíbrio térmico”, aposta Marisa Carvalho, coordenadora do programa Ecoescola BH, da Secretaria Municipal de Educação.
Outro que também aposta na colheita dos bons frutos das iniciativas da PBH para melhorar a qualidade do meio ambiente por meio do trabalho nas escolas é Arthur Bernardo, do Ipê Bio Soluções Ambientais. Ele participou do evento na EMEI Vila Leonina, distribuindo mudas de hortaliças para as crianças levarem pra plantar em casa.
“É muito importante que exista toda essa prática, ainda mais numa cidade que como Belo Horizonte, por ser uma metrópole urbana, a criança não tenha tanto contato com o campo, com a terra. Resgatar essa herança é importante. A criança aprende como funciona o ciclo de uma planta, que a planta também é um ser vivo, como ela pode cuidar, que ela pode fazer a plantinha crescer. É uma formação cidadã, mas acima de tudo também é uma formação para educação da criança e que pode servir como uma ferramenta de aprendizado para outras esferas da vida. Acima de tudo vão ser crianças que vão dar o exemplo. Vão ser crianças que vão se incomodar ao ver algo errado, vão se incomodar ao ver uma árvore sendo derrubada”, pontua.
Para a jornalista Juliana Minardi, do movimento SOS Mata do Jardim América e do Instituto Árvore, o projeto Escola Verde é fundamental, a conexão entre a natureza, as crianças e a educação, uma iniciativa sonhada há muitos anos por muitos ambientalistas.
“É uma iniciativa que transforma educação em plantio, em qualidade de vida, envolvendo as crianças, principalmente, mas também toda a comunidade, toda a família no entorno da escola. Nós estamos em emergência climática e precisamos urgentemente rever essa relação com a natureza. É uma semente germinada. Para que haja um despertar da consciência, para que essa revolução no sentido da gente retornar a quem nós somos, nós também somos natureza”, defende ela.
O projeto Escola Verde deverá ser levado a outras cinco escolas no primeiro semestre deste ano. Presente no evento na EMEI Vila Leonina, o secretário de Meio Ambiente Gelson Leite falou dos planos para o futuro. A ideia é que a SMMA em parceria com a Educação trabalhe para transformar todas as escolas municipais de BH em ecossistemas verdes. O projeto contempla a implantação de ecoflorestas nas escolas, meliponários de abelhas sem ferrão e pluviômetros para medição do volume de chuvas. Todas as entregas serão realizadas conjuntamente com o trabalho de educação ambiental que envolve oficinas, palestras e visitas. Envolve ainda a formação de agentes mirins ambientais.
“Que essas crianças possam se inspirar a partir dessas atividades, desse engajamento na preservação do meio ambiente, da preservação do nosso planeta. Iniciativas como essa significam esse caminho de preservação. Adaptar as escolas para que nós possamos enfrentar as mudanças climáticas. O Escola Verde vem para fortalecer, para a gente ampliar mais atividades de educação ambiental. Que nós possamos juntos, cada vez mais, fazer uma cidade mais resiliente, uma cidade mais sustentável”, defende Gelson.